Estudantes indígenas realizando dança Toré em área de floresta no território Potiguara, com corpo pintado e ambiente natural ao fundo

Falar sobre educação indígena no Brasil é muito mais do que citar estatísticas ou apresentar metodologias inovadoras. É transmitir experiências, inquietações, sonhos e lutas concretas de povos indígenas, atualmente espalhados em mais de 8.500 localidades pelo país. Pensando nisso, preciso contar sobre o projeto “Corporeidade, Território, Ancestralidade e Ecossaberes”, desenvolvido na Escola Estadual Indígena Cacique Domingos Barbosa dos Santos, na Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor, em Rio Tinto, Paraíba. É uma história viva de integração entre tradição, escola e protagonismo juvenil na luta pela defesa do território e resgate da identidade.

Escuta ativa: o ponto de partida do projeto

Quando me aproximei desse projeto, percebi que ele começa de maneira única: ouvindo os anciãos e lideranças comunitárias. Antes de qualquer oficina, roda de conversa ou prática corporal, há a escuta. Os estudantes mergulham nos relatos dos mais velhos, registrando falas e memórias sobre o colapso da nascente da Aldeia Jaraguá, as marcas da monocultura da cana-de-açúcar e o desmatamento. Essa etapa não é detalhe, é fundamento.

Escutar é o primeiro ato de resistência.

É também assim que o projeto integra saberes ancestrais às necessidades de hoje, tornando a escola espaço de diálogo entre gerações e território de aprendizagem ativa.

O território Potiguara: espaço de biodiversidade e luta

Confesso que nunca tinha sentido tão claramente o significado da palavra “território” quanto ao visitar a Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor. Após demarcação oficial em 2024, são 7.530 hectares abrigando seis aldeias e uma população de 5.799 indígenas. Um território pulsante, repleto de Mata Atlântica, rios, manguezais e restingas, como mostram dados do IBGE sobre áreas indígenas.

Para os Potiguara, o território não é só terra: é memória, é resistência e é sala de aula. O corpo é entendido como lugar de expressão e memória. O território, como espaço de resistência e aprendizado. A ancestralidade aparece como herança dos mais velhos. Os ecossaberes surgem do contato direto e constante com a natureza.

Paisagem da Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor com Mata Atlântica, rio e aldeias

Como STEAM se conecta à educação indígena?

Eu me perguntei: como temas de ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática (STEAM) entram no universo das práticas indígenas? A resposta se faz ao olhar como o projeto integra Educação Física e práticas corporais tradicionais com conteúdos multidisciplinares.

  • Na ciência: estudantes visitam a nascente, analisando os impactos ambientais do desmatamento com observações, registros e coleta de dados.
  • Na tecnologia: celulares viram ferramenta para gravar entrevistas dos anciãos e documentar o Toré, dança e ritual que ocupa papel central.
  • Na engenharia: organizam planejamento do viveiro comunitário e projetos de reflorestamento, desenhando mapas dos pontos críticos.
  • Na arte: murais, pinturas corporais e registros criativos do Toré tomam forma e espaço na escola.
  • Na matemática: os jovens calculam áreas afetadas pela erosão, estudando a voçoroca, ameaça real para rios e casas.

Tudo é alinhado ao RCNEI, à BNCC e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovendo valorização da identidade, autoestima e reunião entre escola e comunidade.

Corpo, território e ancestralidade: mais que conceitos

Na prática, vejo que o ensino proposto não se limita a conceitos abstratos. O corpo é memória viva, veículo de expressão da cultura e ligação espiritual com o território. O Toré, dança-ritual coletiva, tornou-se o centro das vivências dos estudantes, fortalecendo vínculos, tornando palpável a ligação entre corpo, ambiente e ancestralidade. Como ouvi dos próprios alunos, cada batida do Toré é também batida do coração da aldeia.

O Toré é o espírito da terra em movimento.

Essas palavras ecoam nos relatos de jovens como Camilly Vitória, que demonstra preocupação com a poluição das águas, Yasmim Jordânia, que fala da proteção do rio como identidade, e Maria Izabela, que convoca ainda mais engajamento da comunidade. São vozes que brotam do território, ganham potência na escola e reverberam para fora.

Estudantes indígenas registrando o Toré com celulares na escola

Quatro etapas: investigação, ideação, acervo e apresentação

Eu gosto de pensar no projeto por suas quatro etapas, cada uma conectando o estudante como protagonista:

  1. Investigação: entrevistas, registros, escuta ativa de anciãos e lideranças, elaboração de diários de campo.
  2. Ideação: oficinas e rodas de diálogo para criar propostas educativas sobre desafios ambientais e culturais.
  3. Construção de acervo audiovisual: gravações, arquivos digitais, coleções de imagens, textos e registros do Toré e das ações.
  4. Apresentação compartilhada: encontros comunitários, exposições, mostras, devolutivas à comunidade e outros públicos da escola.

O processo importa mais que qualquer resultado final. É um legado em construção contínua, que pertence à escola e à aldeia.

Metodologias ativas e parcerias transformadoras

Na minha experiência, vi como metodologias ativas incentivam o protagonismo juvenil. Os professores atuam como facilitadores e a aprendizagem baseada em projetos estimula a escuta sensível e corresponsabilidade. Os estudantes deixam de ser só ouvintes; passam a ser agentes, multiplicadores, pesquisadores e artistas.

  • Trilhas e plogging (coleta de lixo em movimento) junto ao SESI e Projeto Águas Potiguara.
  • Desassoreamento e reflorestamento com Replanta Mangue.
  • Viveiro de mudas e conservação com a Associação de Pescadores e Agricultores da Aldeia Jaraguá.
  • Orientações sobre áreas críticas e restauração de manguezais com ICMBio e Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

Essas parcerias ampliam horizontes, conectam saberes tradicionais e científicos, e mostram como projetos educacionais podem dialogar com combate à poluição, restauração de áreas degradadas e formação continuada. Sinto uma enorme conexão entre o que vi ali e o que plataformas como a Maestrus estimulam ao propor ambientes personalizados para educação a distância e fortalecimento de professores.

Registros, legado e inspiração

Os acervos gerados, gravações, murais, entrevistas, vídeos, não são apenas arquivos. Representam um legado vivo, parte da história da escola, transformando informações em valores compartilhados. Na essência, o que ficou não foram só os vídeos editados, mas o aprendizado coletivo vivenciado.

E há inspiração em trajetórias premiadas: como o projeto “Super Atletas”, reconhecido pelo Prêmio Territórios, e o projeto contínuo de reflorestamento da Aldeia Jaraguá. Ambos mostraram a força dos estudantes Potiguara no fortalecimento de sua cultura pelo fazer escolar, prova do poder transformador da educação centrada na comunidade.

Para quem busca exemplos de engajamento, aqui estão caminhos para práticas inovadoras em educação que se conectam a causas reais, incentivam a escuta ativa e respeitam o território.

Impactos já sentidos: engajamento e cosmovisão indígena

Já é possível ver resultados. O interesse dos alunos por pesquisa, escuta, expressão crítica e protagonismo indígena cresceu muito. Questões sobre poluição das águas ou desmatamento da Matas têm sido trazidas para a escola, preocupações reais, urgentes e atuais da comunidade Potiguara, segundo recente levantamento do IBGE sobre regiões indígenas.

Ensinar é viver o território com corpo, coração e mente.

A cosmovisão indígena vê o corpo, território, espírito e natureza como uma unidade, nunca separados.

Conclusão: o ciclo de recomeços

Em cada novo registro, plantio ou Toré vivido, percebo que não se chega a um fim, mas a vários recomeços. O projeto “Corporeidade, Território, Ancestralidade e Ecossaberes” se mostra como um processo contínuo de aprendizagem, cuidado e luta coletiva.

Se há algo que posso afirmar, é que valorizar projetos como este é acreditar que a educação pode transformar. Para quem trabalha com tecnologia e educação ou busca inspiração para desenvolvimento de práticas inovadoras, a integração dos saberes indígenas ao STEAM redefine caminhos.

Conheça melhor como a Maestrus pode ser aliada nesse processo de formação, escuta e protagonismo. Experimente a plataforma para criar ações em EAD, compartilhando saberes, ancestralidade e novos futuros na educação. Para professores interessados em ampliar práticas, há cursos online gratuitos para capacitação sobre as tendências mais atuais.

Na educação indígena: cada passo no território é começo de novos caminhos.

Perguntas frequentes

O que é educação indígena STEAM?

Educação indígena STEAM une saberes tradicionais a ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática. É um ensino que valoriza a cultura, práticas corporais e espirituais, promovendo aprendizagem ativa sobre desafios ambientais e identitários da própria comunidade.

Como corporeidade se relaciona com território?

Corpo e território se entrelaçam porque, para os povos indígenas, o corpo é lugar de memória e expressão de identidade, enquanto o território é espaço de resistência, pertencimento e vivências ancestrais. As práticas corporais, como o Toré, conectam o corpo aos rituais, paisagens e lutas do território Potiguara.

Quais são os benefícios do ensino STEAM?

O ensino STEAM incentiva criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas reais, trabalho em equipe e protagonismo dos alunos. Quando aliado à valorização cultural, como no caso dos povos indígenas, aumenta autoestima, engajamento e gera soluções para desafios ambientais e sociais locais.

Por que valorizar saberes indígenas na escola?

Valorizar esses saberes é reconhecer a diversidade, respeitar direitos e fortalecer identidades. Permite que a escola se torne espaço de diálogo, respeito mútuo e integração entre gerações, promovendo práticas mais contextualizadas e sustentáveis. Isso também amplia o repertório de toda comunidade escolar, não só dos indígenas.

Onde encontrar projetos indígenas em STEAM?

Projetos como o da Escola Estadual Indígena Cacique Domingos Barbosa dos Santos mostram práticas inspiradoras. Muitas experiências podem ser conhecidas em portais como sites oficiais dedicados à temática indígena e em espaços que reúnem ideias de educação a distância inovadora, onde plataformas como a da Maestrus incentivam inclusão, formação continuada e divulgação de saberes indígenas conectados ao STEAM.

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