Na escola, pesquisar já não é como era. A cena clássica do estudante rodeado de livros impressos foi substituída por telas, muitas telas, e, acima de tudo, por crescimento vertiginoso do uso de inteligência artificial (IA) e plataformas de vídeo. Essa mudança, ainda pouco compreendida por famílias e profissionais de educação, carrega oportunidades, dúvidas e alguns riscos preocupantes para a formação das novas gerações.
O retrato das pesquisas escolares em 2024
Os dados mais recentes da pesquisa TIC Educação 2024 traçam um cenário claro: 7 em cada 10 estudantes do ensino médio usam ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, em pesquisas escolares. Entre os anos finais do ensino fundamental e médio, esse índice é de 37%; nos anos iniciais do fundamental, chega a 39%. Apesar desse salto, só 32% dos estudantes do ensino médio e 19% dos fundamental receberam alguma orientação de como usar IA nessas tarefas. Há um abismo entre o acesso e o conhecimento crítico sobre os recursos dessas novas tecnologias, e esse abismo preocupa especialistas.
A tecnologia está disponível. O conhecimento para usar bem? Nem sempre.
O levantamento também aponta mudanças no modo de pesquisar. Plataformas de vídeo são usadas como fonte de pesquisa por 72% dos estudantes, taxa quase igual aos 74% que acessam sites de busca tradicionais como Google e Bing, algo que você provavelmente imaginava ser “natural”. Na verdade, essas mudanças indicam um movimento profundo nas práticas escolares, não só na superfície.

A virada: dos buscadores aos vídeos
Quando se pensa no início das pesquisas escolares digitais, logo se lembra dos buscadores. Por anos, adultos, pais, mães, professores, ensinaram esse caminho aos alunos, confiando na variedade oferecida por ferramentas como Google ou Bing. Mas o comportamento digital dos jovens mudou. Hoje, existe uma migração visível para plataformas de vídeo como YouTube, TikTok, Instagram e, em menor escala, Snapchat.
Segundo a pesquisa TIC Educação, 72% dos estudantes usam vídeos como fonte para pesquisas escolares, sendo que adultos ainda preferem buscadores tradicionais. Ao contrário dos buscadores, os algoritmos dessas plataformas potencializam a exposição a determinados tipos de conteúdo, de acordo com padrões de preferência detectados pela ferramenta. Não é à toa que muitos jovens relatam ter “aprendido tal coisa pelo vídeo X”, sem a checagem em outra fonte.
A lógica dos algoritmos e o risco das bolhas
Por trás dessas plataformas, está a chamada lógica algorítmica. Quanto mais tempo uma pessoa passa consumindo determinado tipo de conteúdo, mais ela é exposta a materiais parecidos. O risco? A formação das chamadas bolhas de informação. O estudante vê, lê e consome apenas o que já gosta ou concorda, dificultando o surgimento do pensamento crítico e do confronto de ideias opostas com base em argumentação ou evidência confiável.
O uso intenso de vídeos para pesquisas escolares preocupa coordenadores pedagógicos, professores e famílias. Recentemente, Daniela Costa, coordenadora em uma escola de referência, relatou a seguinte preocupação:
“Quando só consumimos conteúdo personalizado pelo algoritmo, a reflexão se perde e o pensamento crítico se enfraquece.”
Inteligência artificial: mais acesso, menos orientação
Os dados mostram, com certa nitidez, que estudantes estão cada vez mais familiarizados com ferramentas de IA para apoiar pesquisas. Segundo a TIC Educação 2024, 70% dos adolescentes do ensino médio usam IA para tarefas escolares. Nos anos finais e iniciais do fundamental, esse índice é significativo (37% e 39%, respectivamente), mostrando que o contato com IA começa cedo.
Apesar disso, a orientação sobre como usar essas ferramentas segue baixa: só 32% dos estudantes do ensino médio e 19% do fundamental tiveram algum tipo de formação para uso de IA. Isso cria um cenário no qual a maioria usa IA sem saber como analisar, comparar ou verificar o que foi gerado.

Como buscam os estudantes versus os adultos
Existe um salto geracional também na forma de buscar informações. Professores, coordenadores e pais ainda veem valor nos buscadores tradicionais e nos portais de conteúdo. Os jovens, cada vez mais influenciados pela praticidade e o fator visual, preferem vídeos curtos e conteúdos instantâneos de plataformas sociais.
- Adultos: priorizam buscadores, interpretam resultados, têm hábito de checar fontes.
- Jovens: migram para vídeos, confiam na primeira resposta e, muitas vezes, não buscam confirmação em diversos sites.
Além disso, buscadores tradicionais agora contam com recursos IA para resumir e explicar resultados, o que pode ajudar, mas também pode levar à superficialidade se o aluno não souber comparar informações e buscar contextos.
A ausência de mediação e seus efeitos
Outro ponto sensível: grande parte dessas pesquisas acontece sem mediação, seja em casa ou na própria escola. Crianças e adolescentes navegam pelo universo da IA e das plataformas de vídeo sem discutir o intuito de quem produz os conteúdos, sem falar sobre algoritmos e sem debater a diferença entre fatos e opiniões.
A ferramenta não ensina a pensar. Quem faz isso são pessoas (quando o tempo permite...).
Esse uso autônomo, segundo especialistas como Daniela Costa, “pode afetar o desenvolvimento cognitivo e o hábito reflexivo”, porque limita a capacidade de pesquisar, comparar e verificar se aquilo faz sentido ou é verdadeiro.
Intenção do conteúdo: questão fundamental
É preocupante perceber que muitos estudantes não param para pensar: por que este conteúdo existe? Quem produziu? Com que objetivo? Em buscadores, as respostas são ranqueadas por relevância, e, agora, por IA. Em vídeos, a ordem e o formato dependem do interesse do algoritmo e também da linguagem usada pelo criador do conteúdo.
Entender o motivo de um conteúdo ser exibido é quase tão importante quanto o conteúdo em si.
Os desafios dos professores diante dessa realidade
Professores também enfrentam obstáculos. Só 54% fizeram cursos de tecnologia educacional nos 12 meses anteriores à última pesquisa. Nas escolas municipais, esse índice cai para 43%. Ou seja, grande parte dos educadores ainda não recebeu preparo formal para mediar o universo digital dos alunos.
Entre os que buscam formação, há uma clara prioridade:
- 82% querem aprender a criar materiais didáticos digitais
- 79% desejam adaptar atividades ao ritmo dos estudantes
- 69% procuram informações sobre uso seguro das tecnologias
- 68% têm interesse em educação midiática
- Apenas 59% buscam formação para IA na educação
Esse recorte, também mostrado pela pesquisa TIC Educação, revela que IA e algoritmos ainda não fazem parte do repertório regular da maioria dos docentes, o que dificulta a orientação adequada dos estudantes.

A infraestrutura: conectividade é só o começo
Desde 2020, o acesso à internet nas escolas avançou. Hoje, 96% das instituições estão conectadas, incluindo saltos expressivos em escolas municipais (de 71% para 94%) e rurais (de 52% para 89%). E entre as conectadas, 88% já contam com internet disponível nas salas de aula. Um ganho e tanto.
Mas, como sempre, o desafio está na equidade. Em escolas estaduais, 67% dos alunos usam internet nas atividades propostas pelos professores. Nas municipais, só 27%. Apenas metade das escolas municipais tem computadores para uso dos estudantes. Isso significa que, mesmo em um ambiente onde a tecnologia é, em teoria, abundante, ela ainda não chega para todos nem é usada de forma cotidiana ou eficiente.
Expandir a tecnologia não garante uso efetivo. Ainda faltam recursos e formação.
O impacto das regras e do contexto regulatório
Outro aspecto relevante do estudo é o impacto palpável das políticas escolares sobre o uso de tecnologia. O acesso à internet pelo celular pessoal dentro da escola caiu de 55% para 45% entre 2022 e 2024, ao mesmo tempo em que a proibição total do uso de celulares cresceu, subindo de 28% para 39% das escolas. Parte desses dados foi coletada antes da promulgação da Lei nº 15.100, que restringe celulares em sala de aula, refletindo debates acalorados sobre o papel (e o perigo) dos smartphones na aprendizagem.
O cenário, então, é marcado por:
- Mais escolas conectadas, mas nem sempre com acesso universal.
- Mais restrições ao uso de celulares, afetando a pesquisa autônoma.
- Maior dependência de redes de computadores e estruturas fornecidas pelas próprias escolas.

Temas digitais: o que a escola (ainda) não faz
Temas como cyberbullying, privacidade, segurança e uso de IA começam a aparecer nas escolas, mas de maneira pouco sistemática. Segundo 89% dos coordenadores, há pelo menos alguma atividade para discutir essas questões ao longo do ano. No entanto, só 30% afirmam abordar temas digitais conforme dúvidas ou necessidades dos alunos aparecem. E 49% das escolas realizam ações desse tipo apenas uma ou duas vezes ao ano. Isso mostra que aspectos fundamentais da cidadania digital, da verificação de fatos e da formação do pensamento crítico, ainda não estão incorporados no currículo.
E não é só a ausência de atividades planejadas. Falta também recurso. 47% dos professores relatam falta de recursos digitais nas escolas, o que compromete a capacidade de promover debates ou atividades sobre o uso crítico das plataformas tecnológicas.
Há uma lição clara: expandir tecnologia na escola é passo necessário, mas não suficiente. É preciso incluir debates, formação, recursos e professores prontos para discutir tecnologia, IA e lógica dos algoritmos com estudantes de forma regular.
A grande virada da educação: desafios e possibilidades
A popularização da IA, dos buscadores com recursos inteligentes e dos vídeos curtos como fontes rápidas de consulta mudou radicalmente a forma de pesquisar. Mas, para além dos dados, existe um contexto humano: alunos aprendendo a todo instante, absorvendo ideias, formando visão de mundo, muitas vezes sem orientação ou mediação.
São inegáveis os benefícios de recursos como a IA: respostas rápidas, acesso amplo, personalização. Ao mesmo tempo, existe o risco de acomodação intelectual. A escola, neste cenário, precisa retomar o protagonismo na formação crítica e digital, dando sentido ao uso das tecnologias e orientando para que a informação seja analisada, checada e discutida, não apenas reproduzida.
Projetos como a Mestres EAD mostram que é possível aliar tecnologia de ponta, segurança, personalização e experiência de aprendizagem comprometida com o desenvolvimento integral. Trazer metodologias modernas (aulas ao vivo, trilhas personalizadas, concessão automática de certificados, entre outros) e, ao mesmo tempo, apostar no suporte humanizado, é um caminho para atualizar a escola, sem perder a essência da formação humana.
Criamos, então, um novo desafio nacional: garantir estrutura adequada, mediar o uso da tecnologia e, acima de tudo, investir na formação de alunos e professores para que o futuro digital brasileiro seja plural, reflexivo e crítico, mesmo diante de tanta informação personalizada e instantânea.
Conclusão
É evidente que IA e plataformas de vídeo transformaram o jeito de fazer pesquisas escolares no Brasil. O acesso está cada vez mais fácil. O uso, cada vez mais natural. Porém, a formação crítica e a compreensão dos riscos caminham em passos lentos. Oriente crianças e adolescentes, converse sobre a intenção dos conteúdos, ajude-os a desenvolver filtro diante das bolhas digitais. E, se sua escola ou seu projeto de ensino busca recursos seguros, inovadores e com suporte real, conheça a Mestres EAD. Nosso compromisso é transformar a experiência de ensino digital, promovendo autonomia e reflexão. Experimente gratuitamente e transforme a aprendizagem dos seus alunos, colaboradores ou equipe. O futuro da educação começa agora.
Perguntas Frequentes
O que é IA nas pesquisas escolares?
Inteligência Artificial (IA) nas pesquisas escolares é o uso de sistemas computacionais que simulam inteligência humana para encontrar, organizar ou gerar informações para trabalhos, tarefas e aprendizados na escola. Exemplos incluem assistentes de texto (como ferramentas generativas de resposta), buscadores com resumo automático ou aplicativos de apoio. O estudante digita uma dúvida ou tema e recebe conteúdos prontos ou filtrados, o que pode acelerar a pesquisa, mas exige olhos atentos para analisar e checar as respostas.
Como vídeos ajudam nas pesquisas escolares?
Vídeos facilitam muito a compreensão de conteúdos, pois unem imagem, áudio, exemplos práticos e estímulos visuais. Plataformas de vídeo oferecem tutoriais, resumos de temas e explicações dinâmicas que ajudam alunos de diferentes estilos de aprendizagem. São ótimos para entender experimentos, processos complexos ou ter contato com experiências reais. Mas é necessário equilíbrio: vídeos curtos ou sensacionalistas, nem sempre trazem aprofundamento ou múltiplas opiniões.
Quais são os riscos do uso da IA?
Os principais riscos são a superficialidade na análise, dependência excessiva de respostas prontas, exposição a informações não verificadas e dificuldade em desenvolver o pensamento crítico. Além disso, o uso sem orientação pode levar à limitação de perspectivas e ao consumo apenas de conteúdos selecionados por algoritmos, criando bolhas de informação. É fundamental entender como a IA organiza resultados, buscar confirmar dados em diferentes fontes e debater as respostas em sala de aula ou em casa.
Vale a pena usar IA para estudar?
Vale, desde que o estudante tenha orientação sobre checagem, comparação e profundidade dos conteúdos. A IA pode ser aliada valiosa para tirar dúvidas rápidas, organizar ideias, encontrar fontes confiáveis e complementar pesquisas. No entanto, não substitui o aprendizado construído com reflexão, análise e discussões. O melhor caminho é combinar a IA com fontes diversas e debates orientados por professores ou especialistas.
Como identificar informações confiáveis em vídeos?
Para verificar a confiabilidade de vídeos, observe quem é o produtor do conteúdo, a fonte citada, a data de publicação e se há referências a estudos, instituições de ensino ou profissionais reconhecidos. Evite confiar apenas em vídeos “de opinião” ou sensacionalistas. Sempre procure outros vídeos ou sites que apresentem versões diferentes do mesmo tema. Pergunte-se: quem fez este vídeo e por quê? Esse exercício já é um bom filtro inicial para buscar mais confiança.