O ingresso em uma licenciatura tem sido, para milhares de jovens brasileiros, uma experiência que muda caminhos e perspectivas. E, em 2024, essa passagem ficou ainda mais marcante: segundo o Mapa do Ensino Superior do Brasil do Instituto Semesp, quase 39% dos estudantes das licenciaturas estão sendo os primeiros de suas famílias a chegar ao ensino superior. O impacto disso vai muito além do conteúdo técnico ensinado em sala de aula – é a inauguração de uma nova história, pessoal e profissional, marcada por desafios, relações, aprendizados que não cabem só nos livros, mas também no enfrentamento do desconhecido e na busca constante por identidade.
A universidade como ponto de virada
Chegar à universidade traz um sentimento de conquista, mas também de desconforto e dúvidas, sobretudo quando somos pioneiros em nossas famílias. Em nossas conversas do dia a dia notamos como, para muitos professores e estudantes, esse espaço é um exercício diário de adaptação e redescoberta. O que um futuro docente precisa viver na universidade não é só a formação técnica, mas um processo profundo de autoconhecimento e relação com o outro.
Durante a Bett Brasil 2024, em São Paulo, ouvimos relatos e reflexões sobre o papel das licenciaturas justamente nesse ponto: como construir professores capazes de lidar com um cenário escolar em mutação rápida, mas sem perder o vínculo humano? A fala de Diego Moreira, professor e secretário de Educação de Poá, ficou ecoando em nossas cabeças ao longo do evento. Segundo ele, a identidade do professor começa a ser forjada já na graduação. Não só no que aprendemos, mas, sobretudo, no modo como somos vistos e como nos vemos.
A universidade é o lugar onde nos tornamos também professores dentro de nós.
E é curioso observar que essa construção envolve dois cenários: o subjetivo – quem cada futuro professor sente que é e o que deseja da carreira – e o social – como a sociedade percebe e valoriza (ou desvaloriza) a docência. Diego comparou o desejo de encaixar todos no padrão da “professora Helena” de Carrossel, aquele modelo idealizado de perfeição, como um risco de apagarmos as características humanas, as fragilidades e a potência única de cada educador.
O crescimento do EAD e seus impactos na identidade docente
Uma das discussões que mais ganharam força em 2024 gira em torno do avanço do ensino a distância na formação de professores. O Mapa do Ensino Superior no Brasil 2025 deixa claro o tamanho do fenômeno: entre 2019 e 2023, 504.933 estudantes concluíram pedagogia na modalidade EAD, contra 196.692 no presencial. Em 2023, quase metade (49,2%) das matrículas em licenciaturas – ou seja, 822 mil alunos – estava em pedagogia. É um universo gigantesco, mas que levanta questões sobre concentração de formações e possíveis vazios em áreas como química, física e biologia.
Observamos em nossos atendimentos na Maestrus que muitos desses futuros professores, vindos de cursos EAD, buscam espaços de troca e formação continuada para ir além do conteúdo. É uma demanda crescente. Mas há um alerta: Diego Moreira destaca o impacto diferenciado do presencial na formação da identidade docente. Ele aponta que, apesar de bons exemplos no EAD, parte do sentimento de pertencimento de ser professor, de se reconhecer como tal, nasce das vivências presenciais e do contato humano intenso com os pares, que nem sempre se reproduz no digital.
Isso não significa que a formação EAD seja inferior, mas sim que cada modalidade traz desafios identitários e pedagógicos diferentes. A tecnologia pode aproximar realidades, mas algumas experiências, como o debate cara a cara, o café pós-aula ou a escuta sensível do colega, são difíceis de transferir totalmente para o virtual.

Desafios de concentração e ausências na formação docente
Ainda de acordo com o Mapa do Ensino Superior, a concentração de matrículas e diplomas em pedagogia preocupa pesquisadores, pois pode indicar escassez de professores nas ciências da natureza e matemática. Muitos professores que encontramos relatam incertezas sobre como ampliar sua formação após a pedagogia, mas falta incentivo institucional para direcionar estudantes a outras áreas do conhecimento.
- Possível lacuna em física, química e biologia nas redes escolares brasileiras.
- Foco demasiadamente restrito à pedagogia, deixando outras áreas em segundo plano.
- Necessidade de políticas educacionais para democratizar e diversificar a formação de professores.
Iniciativas como o e-docente, portal com materiais gratuitos para atualização e aprofundamento de professores, têm ganhado relevância, principalmente para quem segue trilhas acadêmicas menos convencionais e busca se atualizar constantemente.
Aqui na Maestrus, há anos defendemos que a identidade do educador se constrói no plural: pelo que aprende, ensina, recria em sala e nos vínculos que constrói. Reforçamos sempre a necessidade de abrir caminhos para novas licenciaturas, para que haja real diversidade de especialidades e experiências no corpo docente das escolas brasileiras.
A valorização docente além do diploma
Autoestima docente, condições de trabalho e autonomia metodológica são assuntos que apareceram com muita frequência durante a Bett Brasil. Elias Antônio Democh, da Secretaria de Educação de Goiânia, resumiu bem a nossa sensação: formação sólida é apenas um dos três pilares da valorização profissional, junto com escuta ativa e valorização do caminho próprio de cada professor.
Nem todo professor segue uma receita, e está tudo bem.
Mais do que dominar técnicas, os professores precisam ser reconhecidos pelo olhar sensível e pela capacidade de se adaptar e de propor caminhos singulares para os desafios cotidianos. Muitas vezes, temos a impressão de que professores são mais julgados por suas escolhas do que outros profissionais. Diego Moreira citou que cirurgiões não são questionados sobre cada passo de sua atuação do mesmo modo que professores são. Isso, segundo ele, decorre de um certo distanciamento entre as licenciaturas e a sociedade. Uma aproximação efetiva, mais aberta e colaborativa, ajudaria tanto na valorização quanto na legitimidade das escolhas pedagógicas.
Nos corredores da universidade e no próprio cotidiano das escolas, ouvimos muitas frases que mostram essas pressões:
- “Se você é professor de matemática, por que não faz sempre igual ao colega?”
- “Por que não usa apenas o método X, que deu certo em tal escola?”
Repetimos aqui uma ideia defendida em vários encontros: o diploma é início de uma longa construção, não um ponto de chegada. São os saberes vividos, as trocas, erros e acertos, que forjam, de fato, o ser professor.
O papel da tecnologia e das novas competências docentes
Tecnologia tem estado no centro dos debates educacionais. Durante a Bett Brasil 2024, em uma fala citada pela matéria do Jornal do Commercio, a diretora-geral Claudia Valério destacou o papel da educação como base para construir soluções que respondam a desafios sociais, ambientais e tecnológicos. Notamos que, atualmente, mais importante do que dominar ferramentas é saber usá-las criticamente e com intenção pedagógica clara.
Na Maestrus, temos sentido esse movimento na demanda crescente por recursos como aulas ao vivo integradas, emissão automática de certificados e controles de frequência digitais. Recursos assim ajudam, mas não substituem o essencial: o desenvolvimento de competências humanas.
O debate sobre inteligência artificial, tema recorrente tanto na tecnologia educacional quanto nos corredores das instituições, impõe novas exigências aos professores. O e-book Guia rápido para a sala de aula do Porvir e as contribuições de George Stein evidenciam que, diante das inovações, cinco aspectos permanecem fixos para a prática docente no mundo da IA:
- Reconhecer o ambiente escolar e suas especificidades.
- Olhar atento ao estudante e suas necessidades reais.
- Incluir tecnologias de modo crítico, com objetivo pedagógico.
- Explicitar as limitações das inteligências artificiais no processo de aprendizagem.
- Valorizar o desenvolvimento humano, algo que as máquinas não substituem.
Segundo George, nos arriscamos a perder a essência educativa se embarcarmos em tecnologias apenas pelo impulso comercial e não pedagógico. Ele propõe uma competência mediadora nessa integração; defendemos esse ponto também: nenhum recurso digital faz sentido se não houver clareza de objetivos humanos por trás.

IA e formação: não existe salto sem base consolidada
Nos últimos meses, ouvimos opiniões divergentes: para alguns, IA pode revolucionar a sala de aula imediatamente; para outros, ela precisa ser usada com cautela. Diego Moreira compartilhou conosco uma observação simples – e certeira: ensinar robótica ou programação não resolve dificuldades básicas anteriores, como o entendimento de frações.
Ou seja, a integração tecnológica é válida, mas só após a consolidação de uma base de conhecimentos didáticos e pedagógicos nos professores. Isso vale para tudo: talvez para ampliar projetos inovadores ou até criar novos caminhos curriculares, como já fazemos ao apoiar quem quer criar cursos online ou presenciais pela Maestrus, mas sempre começando pelo domínio do essencial.
Faz sentido para vocês também? Para nós, sim. Porque, do outro lado da tela ou da lousa, há estudantes que carregam dúvidas e sonhos muito concretos, que não cabem em respostas automáticas nem em robôs.
Desafios subjetivos e reconhecimento social da docência
Voltemos a um ponto fundamental: a sociedade ainda exige que professores justifiquem cada escolha. Numa profissão que cuida de gente, somos mais cobrados do que celebrados. Na Bett Brasil, Elias Antônio Democh destacou a importância da escuta ativa e do respeito ao caminho próprio de cada docente. Isso nos leva a refletir:
Ser professor é, antes de tudo, um processo de permanentes tentativas, ajustes e recomeços.
A formação – tanto inicial quanto continuada – precisa acolher as singularidades dos educadores. Devemos valorizar a autonomia e recuperar o poder de decisão do professor, perdido por vezes em meio a burocracias e modelos únicos impostos por políticas distantes da realidade da sala de aula. É urgente resgatar o “poder ser” que existe em cada docente, incentivando a busca por referenciais próprios, vivências autênticas e formação ao longo da vida.
Sabemos que a tecnologia ajuda, como no caso das trilhas personalizadas construídas na Maestrus ou nos debates sobre planejamento de aulas com IA. Porém, ninguém ensina ou aprende apenas por seguir tutoriais automatizados. Frequentes relatos mostram que os melhores momentos de aprendizagem acontecem do improviso, do olhar, do erro e da escuta – elementos profundamente humanos.
Construindo uma formação continuada mais plural
O avanço do EAD mudou o perfil dos cursos de formação. Se, de um lado, ampliou o acesso, de outro trouxe desafios em relação ao pertencimento e à construção coletiva da identidade docente. Mas algo permanece: a importância de manter a formação continuada e buscar constantemente recursos complementares.
Por isso, iniciativas como o apoio entre professores, o incentivo a workshops de tecnologia, reflexão permanente sobre o papel do professor e o uso de recursos abertos, como aqueles do e-docente, tornam o percurso mais rico e autônomo. Adotar novas práticas passa por atualização constante – cada professor descobre seu próprio ritmo e seu jeito de ensinar.

O futuro das licenciaturas: autonomia, escuta e potência humana
O futuro das licenciaturas não será marcado apenas pelos avanços técnicos ou pelo domínio de ferramentas digitais. Será, cada vez mais, uma construção coletiva, viva e plural. Defendemos uma formação que respeite percursos, inquietações e escolha do caminho de cada novo professor. E, claro, que permita experimentação, reflexão e escuta sensível ao outro.
- Valorizar o presencial e as trocas humanas, mesmo em cenários de aumento do EAD.
- Apostar em diversificação de áreas e incentivar professores a buscar diferentes trajetórias de formação.
- Promover a atualização constante, mas sem pressa: IA e novas tecnologias são aliadas, desde que construídas sobre bases sólidas.
- Defender escuta ativa e espaço para autonomia docente.
Na Maestrus, acreditamos profundamente que formar professores é alimentar sonhos, transformar trajetórias individuais e, sobretudo, fortalecer a identidade e a liberdade de quem ensina. Nossa plataforma EAD se dedica diariamente a apoiar educadores nas suas escolhas, oferecendo recursos tecnológicos aliados a processos formativos humanos, inclusivos e seguros.
Chegamos ao fim deste artigo reforçando nosso convite: conheça a Maestrus, experimente gratuitamente nossa plataforma por 7 dias e descubra como podemos ajudar você a criar, transformar e compartilhar conhecimento com segurança, autonomia e escuta. Afinal, a transformação na educação começa por cada um de nós, passo a passo, escolha a escolha.

Perguntas frequentes sobre licenciaturas em 2024
O que é licenciatura em 2024?
Licenciatura em 2024 é o curso superior voltado à formação inicial de professores para a educação básica, incluindo áreas como pedagogia, matemática, ciências e línguas. Hoje, essa formação pode ocorrer presencial ou a distância, acompanhada de debates sobre tecnologia, currículo e identidade docente, refletindo as rápidas transformações do cenário escolar e social.
Quais os maiores desafios das licenciaturas?
Os principais desafios são a concentração de formações em pedagogia, possíveis lacunas em áreas como ciências, a necessidade de valorização docente e a construção de uma identidade profissional que vá além dos conteúdos técnicos. Soma-se a isso o desafio de integrar tecnologia de modo crítico, fortalecer vínculos humanos e criar espaços de escuta ativa e autonomia para o professor.
Como a tecnologia impacta as licenciaturas?
A tecnologia amplia o acesso à formação, propõe novas metodologias e impõe o desenvolvimento de competências digitais, mas não substitui o contato humano essencial na construção da identidade docente. Plataformas como a Maestrus contribuem oferecendo recursos de ensino, mas o desafio é integrar tecnologia e propósito pedagógico, mantendo foco nas necessidades dos estudantes e na mediação sensível do professor.
Vale a pena fazer licenciatura hoje?
Sim, principalmente para quem busca um projeto de vida pautado na transformação social, na valorização do ensinar e na possibilidade de contribuir diretamente com o futuro das novas gerações. Apesar dos desafios, a licenciatura proporciona crescimento pessoal, oportunidade de autonomia e uma experiência de impacto real na sociedade.
Como fortalecer a identidade docente?
Fortalecer a identidade docente exige formação continuada, abertura ao diálogo, trocas de experiências e autonomia para construir percursos próprios de ensino. O apoio de plataformas colaborativas, recursos abertos como e-docente e o incentivo para que cada professor explore suas singularidades e contextos tornam essa jornada mais rica e significativa.
