Estudantes usando celulares e tablets para criar vídeos e fotos digitais em sala de aula iluminada

Não faz muito tempo, eu acompanhei um projeto que me fez repensar completamente como lidamos com arte, tecnologia e identidade entre adolescentes. Falo da Escola Municipal George Chalmers, em Nova Lima (MG). Em 2022, a escola se deparou com uma situação alarmante: mais de 100 estudantes apresentavam ansiedade, automutilação e outros sinais de sofrimento psíquico. Tudo isso trazia à tona o quanto um vazio identitário, falta de pertencimento e carência de ferramentas para autocompreensão estavam presentes, especialmente no universo digital.

Sofrer em silêncio não pode ser o único caminho.

Foi aí que surgiram iniciativas de unir arte, escuta atenta e tecnologia na tentativa de oferecer aos jovens do 9º ano um espaço para refletirem sobre quem são – no real e também no online. O resultado foi surpreendente. E é sobre esse percurso que quero falar: como a escola traçou 7 passos para fortalecer o eu digital, integrando arte e tecnologia.

O início: quando a escola escuta e acolhe

Desde o começo, tudo foi conduzido com muita escuta. Os relatos de estudantes indicavam que eles sentiam dificuldade até mesmo de se perceber e expressar. A pressão das redes sociais, a comparação constante, as dúvidas sobre pertencimento e as limitações do mundo digital para criar laços reais se somavam.

Eu percebi como a arte ganhou papel fundamental nessa travessia. Quando os adolescentes tiveram liberdade para desenhar, fotografar e criar vídeos, começaram a se expressar de um jeito novo, encontrando sentido e pertencimento até mesmo nas dores vividas.

Alunos criando arte com celulares na escola

Como nasceu o projeto “Eu digital: tecnologias e identidade”

O projeto foi um desdobramento de outra iniciativa sobre identidade e cultura. Os alunos começaram a registrar, de forma artística, tanto seus processos individuais quanto os colegas. Isso abriu espaço para questionamentos profundos, como:

  • Como as redes sociais afetam minha autoimagem e relações?
  • O que busco ao postar uma imagem?
  • O algoritmo realmente determina como as pessoas me percebem?
  • Existe diferença entre “eu real” e “eu digital”?

Essas discussões mostraram que o ambiente online pode ser mais que palco de exibição. O digital pode ser espaço de criação, memória e subjetividade.

O processo prático: arte digital em três frentes

O projeto se organizou em três trilhas práticas:

  1. Eu digital: autorretratos em foto, desenho e montagem digital. Cada estudante criava sua própria representação, testando filtros e refletindo sobre como gostaria de ser visto.
  2. Outro digital: registros dos colegas sob diferentes olhares e linguagens, reforçando o exercício do respeito ao outro e da empatia.
  3. Mundo digital: fotografias e digitalização de criações artísticas individuais, fundindo arte analógica à digital, dando um novo significado ao que antes era apenas papel ou tela.

Foram usados celulares, tablets e aplicativos gratuitos. Nada de equipamentos profissionais. As produções eram publicadas em um site-repositório coletivo – um exercício claro de autoria digital responsável, algo que também vejo de perto acontecer em plataformas como o Mestres EAD, facilitando a curadoria, publicação e segurança no compartilhamento de conteúdos por alunos e professores.

“A turma inteira virou artista e espectador ao mesmo tempo.”

Liberdade de criação e consciência crítica

O mais rico disso tudo? Foi perceber que, ao ter liberdade expressiva e fugir dos padrões impostos pelas redes sociais, os estudantes realmente se engajaram. Não havia preocupação em buscar likes. O foco era autenticidade e autorreflexão.

Engana-se quem pensa que a supervisão adulta foi sufocante. Pelo contrário. O curta-metragem “Eu, o Outro e o Mundo” foi um exemplo: os próprios alunos atuaram, dirigiram, filmaram e editaram tudo no celular com CapCut e Canva. Os educadores ajudaram a facilitar e orientar, mas a narrativa foi dos estudantes, do início ao fim.

Alunos filmando curta-metragem no pátio escolar

Reconhecimento, mostra e impacto coletivo

Esse curta foi selecionado – e premiado – no 17º Festival Internacional de Cinema Escolar MacacuCine 2025, recebendo o primeiro lugar pelo júri popular em participação online. O projeto também foi reconhecido na 26ª UFMG Jovem, onde teve espaço para exibição e discussão, ampliando o debate sobre identidade e tecnologia.

A exposição final das produções na escola trouxe resultados que, a meu ver, vão além das telas. Alunos, professores e famílias se aproximaram, trocando experiências, debatendo sentimentos e valorizando escuta e olhar atento ao outro. Perceberam que produzir e compartilhar são atos de coragem e pertencimento.

A arte cria pontes. O digital amplia os encontros.

Desafios e superação: o protagonismo dos estudantes

Nem tudo foi fácil. Faltou equipamento profissional, claro, mas o uso criativo de celulares e tablets mostrou que a limitação pode virar caminho de inovação. Quando o estudante vira protagonista de sua própria narrativa digital, tudo ganha outro sentido. A autoria e análise crítica das próprias produções também fortaleceram vínculos e amadurecimento emocional.

Eu vi muitos alunos enxergarem valor nas próprias vivências, reconhecendo a potência coletiva do grupo na construção da identidade.

O alinhamento com a BNCC e o futuro ampliado

O projeto dialogou com a BNCC em Computação, abrangendo Mundo digital, Pensamento computacional e Cultura digital. Os estudantes aprenderam a criar, planejar e compartilhar conteúdos digitais de modo responsável, integrando arte e sensibilidade.

Isso inspirou a ampliação da iniciativa para toda a escola. Com mais estudantes reconhecendo que suas histórias importam, a diversidade de vozes só aumenta. Os laços se fortalecem, e o ambiente escolar ganha nova vida.

7 passos para fortalecer o eu digital na escola

Pensando nessa experiência e na relação entre arte e tecnologia, organizei aqui 7 passos que, na minha visão, foram decisivos para o fortalecimento do eu digital nas escolas:

  1. Escutar de verdade os estudantes sobre suas dores, inseguranças e desejos.
  2. Usar a arte como ponte para expressão do que não cabe em palavras.
  3. Promover debates sinceros sobre redes sociais, algoritmos, busca por validação e filtros digitais.
  4. Estimular produção autoral (vídeos, fotos, montagens), respeitando identidade e autonomia.
  5. Criar ambientes digitais seguros para publicação e reflexão coletiva (como repositórios ou plataformas protegidas, a exemplo do que vejo no Mestres EAD).
  6. Valorizar o processo acima do produto final, focando na autenticidade.
  7. Abrir espaço para exposição pública e diálogo, promovendo pertencimento e empatia.

Com esses passos, os estudantes aprenderam a questionar padrões digitais, validar emoções próprias e reconhecer o quanto a arte e a tecnologia podem ser aliadas em suas caminhadas.

Conclusão

Pensar arte e tecnologia juntas na escola só faz sentido quando o estudante se sente ouvido e livre para criar – digitalmente e fora das telas. O projeto da Escola George Chalmers mostra que a jornada de fortalecer o eu digital precisa de escuta, mão na massa, reflexão e, sobretudo, coragem para experimentar. Muitas dessas etapas podem ser potencializadas em ambientes virtuais seguros, como o oferecido pelo Mestres EAD. Deixo um convite: que tal promover esse tipo de experiência em sua escola ou projeto? Conheça mais as soluções do Mestres EAD e descubra como apoiar o protagonismo e a criatividade dos estudantes no universo digital!

Perguntas frequentes

O que é eu digital na escola?

Eu digital é a forma como cada estudante se apresenta, interage e constrói sua identidade no ambiente online, levando em conta redes sociais, produções digitais e relações virtuais. Trabalhar esse conceito envolve refletir sobre autenticidade, validação externa e influência digital nas emoções e relações pessoais.

Como unir arte e tecnologia na aula?

Minha experiência mostra que arte e tecnologia podem andar de mãos dadas quando a proposta inclui produção autoral – como criar vídeos, autorretratos, montagens ou curtas metragens utilizando aplicativos e dispositivos acessíveis. Vale estimular a criatividade combinando desenho, fotografia, edição digital e debates sobre a influência dessas linguagens na formação da identidade.

Quais são os 7 passos principais?

Resumindo os sete passos que vi serem mais efetivos:

  • Escuta ativa dos estudantes
  • Expressão artística como ponte
  • Debate aberto sobre digital e validação
  • Produção autoral e autônoma
  • Ambientes digitais seguros para publicação
  • Valorização da autenticidade
  • Exposição pública e diálogo coletivo

Por que trabalhar arte digital com alunos?

A arte digital permite que o estudante teste novas formas de expressão, se reconheça no coletivo e analise criticamente o impacto do mundo virtual na construção de sua identidade. Ela promove autonomia, reflexão e pertencimento, permitindo experimentar sem medo de julgamentos externos.

Quais ferramentas digitais posso usar em sala?

Eu indico começar com o que já está acessível: celulares, tablets, aplicativos gratuitos de edição de vídeo e imagem, como CapCut e Canva. Plataformas de publicação segura – como o ambiente Mestres EAD – também ajudam a garantir espaço protegido e organizado para as produções, ampliando visibilidade e reflexão coletiva.

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